Um universo de mulheres do mundo

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Estou zangada contigo.

O meu pai morreu há 2 semanas. Vi-lhe o corpo entregar-se a uma doença rápida, insuportável, incapacitante, maldosa mesmo. Roubou-lhe a força, a possibilidade de engolir e também a lucidez. Pediu-me várias vezes o telefone para falar com o meu irmão, irmão este que morreu há 1 ano atrás. No seu último dia de vida já não abriu os olhos e não nos reconheceu, aos seus filhos e mulher. No dia anterior, depois de voar precipitadamente de Madrid para Lisboa, cheguei a horas de o encontrar semi-lúcido e acordado. Ficou feliz por me ver, creio que tentou acarinhar o filho que trago na barriga e que já não saberá quem é o homem enorme, de 100 quilos e 1,86 metros, génio terrível, inteligência inquestionável e sabedoria imensa.

Estou zangada com o meu pai. Primeiro porque não me contou um monte de histórias sobre ele mesmo. Segundo porque nunca fui com ele ao sítio onde nasceu, Benguela, Angola. Terceiro, quarto e quinto e último porque nunca me explicou que quando os pais morrem, nós começamos mesmo a sentir-nos sozinhos no mundo. E eu só tenho 29 anos, ainda não sei viver sem os meus pais. Saí do ninho há muito mas nunca saí da asa deles.

4 comentários:

Anónimo disse...

um beijo muito grande...
estou aqui sempre para o que precisares!
Pérola Luna

Quando regressas a Lx?

chuva boa disse...

beijo muito grande meu também.
força aí, rapariga.
acho que no fundo nenhum de nós sabe viver sem os nossos pais..
beijo, no que precisares, já estou de volta a barcelona e continuo a ser uma parasita da sociedade.

CO disse...

Lamento.
Perdi a minha mãe há 3 anos.
Casei cedo, mas fiquei a viver por cima da casa dela.
Tenho 34 anos.
Nunca saberemos como viver sem os pais.
São eles o nosso início, quando se vão, perdemos os pontos da nosso bússula.

Mais uma vez um abraço universal, que apesar de em nada ajudar, saberá que houve alguém que "bebeu" estas palavras e sabe o tamanho da dor.
E se doi...
Somos tão pequenos...

SMS disse...

Um grande beijinho para ti. Eu gostava de me poder zangar com o meu pai quando ele morrer. Mas a nossa não-relação nem isso vai permitir. Pensa na sorte que tiveste, de o ter contigo 29 anos. Mais beijinhos e força.